sábado

Processos judiciais revelam como agem PMs corruptos no RJ



Manhã de 7 de fevereiro de 2010. Um homem se envolve em um acidente de carro próximo à praça do pedágio da linha Amarela, na zona norte do Rio de Janeiro, e é abordado por dois policiais militares, que pedem seus documentos.

A entrega não é imediata. Os policiais, então, levam o rapaz para uma sala reservada e, mediante ameaças, exigem dele a quantia de R$ 2.000. Ele, então, liga para um primo, fala sobre a situação, mas só consegue R$ 1.000, que é repassado aos PMs.

Pouco depois, uma equipe da Corregedoria da corporação chega ao local e revista os PMs. Os fiscais acham a quantia no bolso de um deles que, tentando despistar, afirmou que seria fruto do pagamento de um empréstimo feito pelo companheiro de farda. Os PMs acabaram presos em flagrante e, por causa disso, são condenados a seis anos, quatro meses e 24 dias de prisão.

Cenas como essa fazem parte do cotidiano do Rio de Janeiro. O R7 obteve alguns processos em andamento na Auditoria Militar do Tribunal de Justiça, todos abertos neste ano. Os documentos revelam como PMs denunciados por extorsões agem contra as vítimas.


A assessoria de imprensa da PM disse que os todos os soldados passam por treinamento para abordar suspeitos e que aqueles que se corrompem fogem das regras da corporação. Para a assessoria, as falhas são individuais e são apuradas pela PM.

Recentemente, dois PMs foram presos suspeitos de exigir R$ 10 mil para liberar o jovem que atropelou e matou o filho da atriz Cissa Guimarães, Rafael Mascarenhas, de 18 anos, dentro do túnel Acústico, na Gávea, zona sul. O pai do rapaz disse ter dado R$ 1.000 aos policiais. Outros quatro PMs respondem a processo acusados de extorquirem um rapaz deficiente físico em uma boate na Vila Mimosa, na zona norte da cidade, em abril. Segundo os documentos, a vítima foi extorquida duas vezes, sendo uma delas por um oficial que, por ter uma patente superior, exigiu um valor maior. O rapaz ainda alegou ter recebido telefonemas estranhos após o fato. "Meu café custa R$ 100"

"Meu café custa R$ 100". Foi com essa frase, em tom de deboche, que um PM tentou resolver a situação de um motorista de caminhão, que foi parado às 19h30 do dia 10 de março, na estrada Cabuçu-Queimados, em Queimados, na Baixada Fluminense, e que apresentou documentação irregular.

O policial afirmou que bastaria o rapaz "deixar um cafezinho" e reteve a carteira de motorista. O documento só seria devolvido mediante o pagamento da quantia exigida. Foi marcado um horário e local para que a carteira fosse restituída e o dinheiro entregue. Na hora, uma equipe da Corregedoria deu o flagrante e prendeu os PMs.

"Se você tem R$ 3.000 finjo que nada disso aconteceu"

Na tarde do dia 16 de novembro, um casal foi parado por PMs do DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo) de Cairuçu, em Paraty, no sul fluminense. Após fazer a revista e não achar nada suspeito, um dos policiais teria tentado forjar um flagrante. Segundo relato, ele retirou do bolso um pequeno pacote branco onde havia uma porção de substância assemelhada a maconha e afirmou que poderia "achar" isso no veículo das vítimas.

- Eu posso achar isso aqui, o que vocês têm para mim? Se você tem R$ 3.000 finjo que nada disso aconteceu.

O casal afirmou que só tinha R$ 300 disponíveis no momento. O PM, então, afirmou que levaria a dupla para a delegacia e ainda fez deboche.

- Eu não acredito que sua esposa europeia vai se acostumar com nossas cadeias.

Após entregar o dinheiro, o casal pediu ao policial que lhe devolvesse R$ 100 porque precisava abastecer o carro para retornar para São Paulo. O policial concordou, mas fez novo deboche.


- Para vocês saírem dizendo que o PM foi "fdp", eu vou deixar os R$ 100. Para vocês verem que o dinheiro não é bom, o bom é ter liberdade.

Por causa desta situação, dois policiais foram denunciados e respondem pelo crime de extorsão. A primeira audiência está marcada para o dia 1º de setembro.

  "O que você tem para perder?" Na noite do dia 27 de janeiro do ano passado, dois PMs abordaram o motorista de um Fox preto no trevo das Margaridas, na avenida Brasil, em Irajá, na zona norte da capital. Segundo os documentos, antes da revista, um dos policiais disse: - Dá uma geral. Faça um pente fino. Caso encontre algo, eu vou esculachar com ele Após revistarem o rapaz e não encontrarem nada, um dos policiais começou a dar socos e chutes na vítima. Em seguida, o motorista foi algemado e colocado no próprio carro. Um PM tomou a direção do veículo e levou o motorista para um local ermo. Lá, perguntou ao rapaz: - O que você tem a perder? Assustado, o rapaz disse que os PMs poderiam levar o que quisessem, desde que preservassem sua vida. Os policiais, então, tiraram um aparelho de DVD do carro e R$ 600, e pediram que a vítima "metesse o pé e sumisse". Os dois PMs estão respondendo pelo crime de extorsão mediante sequestro. "Qual é o desenrolo? Me dá R$ 20 mil" Na tarde do dia 7 de novembro de 2008, dois PMs foram acusados de tirar R$ 350 de um homem durante abordagem no Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio, e de exigir R$ 400 do amigo da vítima para liberá-la, relata outro documento. A confusão começou após a revista em que os PMs encontraram uma pedra de crack com o rapaz, além dos R$ 350. Ele foi colocado algemado dentro do carro policial e um dos policiais indagou: - Qual é o desenrolo, me dá R$ 20 mil? A vítima afirmou que não tinha a quantia e os PMs, então, o obrigaram a levá-los até a sua casa. No trajeto, um policial teria falado: - Quer dizer que você é viciado né? O que é que você tem mais para perder Após vistoriarem a casa do rapaz, os policiais foram até um amigo da vítima e perguntaram: - Vai fazer o que pelo teu amigo? O colega do rapaz, então, respondeu que tinha R$ 200 para dar aos PMs. Eles não aceitaram e pediram mais dinheiro. Houve, então, um acordo para que outros R$ 200 fossem entregues em dia posterior, e o homem que estavam em poder deles foi liberado. Os dois PMs estão respondendo a processo por furto e concussão (obtenção de dinheiro por abuso do cargo ou uso de violência). "Se quiserem parar o táxi naquele local, encontre comigo para acertar o trato" Outro caso apurado pelo R7 na Auditoria Militar ocorreu em 10 de março do ano passado. Na ocasião, um soldado foi acusado de cobrar R$ 10 semanalmente de taxistas de uma cooperativa para que pudessem parar em frente a um shopping, na avenida das Américas, na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. Na abordagem a um motorista, o PM disse que não era permitido usar o local como ponto, porque não havia placa indicativa. Em seguida, perguntou ao taxista qual era o montante arrecadado pela cooperativa em que trabalhava e quantos carros ela possuía. Ao tomar conhecimento de que a empresa faturaria R$ 600 por associado, o soldado teria exigido que cada motorista pagasse semanalmente a quantia de R$ 10. - Se o presidente estiver com interesse de parar naquele local, poderá me encontrar para acertar o trato - afirmou o PM, de acordo com os autos. O fato foi comunicado na época ao batalhão, e o soldado acabou denunciado por concussão.

Da Redação Com  R7

Nenhum comentário:

Postar um comentário