terça-feira


'Eu vou matar a tua mãe na sua frente e depois te matar'

Vítimas de assalto na Tijuca relembram momentos de pânico durante ação de bandidos. PM ficou ferido, mas apenas um ladrão foi preso e foi preso

POR LESLIE LEITÃO
Rio - Uma série de assaltos que começou na Lagoa e terminou na Tijuca, dezenas de moradores reféns — incluídos dois bebês —, dois prédios invadidos, troca de tiros, um sargento baleado e uma das vítimas obrigada a amarrar o pai e os irmãos. O enredo caótico que espalhou o terror por um dos bairros mais charmosos da Zona Norte teve também dose de trapalhada da polícia, que deixou quase todo o bando escapar. Apenas um dos criminosos foi preso ao sair do prédio caminhando: ele conseguiu ficar cinco horas escondido no imóvel cercado por PMs. A prisão só foi possível porque um morador o reconheceu.

>> FOTOGALERIA: Tiros, pânico e imagens espetaculares da ação na Tijuca

O início da ação dos criminosos foi na Lagoa. Cinco bandidos saíram de um baile funk no Jacarezinho num Fiat Idea preto roubado com o objetivo de assaltar. Por volta das 9h, renderam um administrador, que chegava em um Honda Civic prata para caminhar, e obrigaram-no a ir até sua casa, na Rua 18 de Outubro, na Tijuca.
Dos cinco bandidos que invadiram prédio, apenas um foi preso | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
Primeiro, dois subiram para o apartamento 202 do edifício 141 e fizeram a esposa e o filho da vítima reféns. Um zelador foi obrigado a amarrar os moradores, enquanto os bandidos roubavam o imóvel. Às 9h30, o estudante de Direito Caio Silveira e seu pai foram rendidos ao sair do elevador: “Fomos levados para a cobertura, onde minha mãe, meus dois irmãos e um amigo dormiam. Eles me obrigaram a amarrar todo mundo”, contou Caio. O bando reuniu mais vítimas nesse imóvel: lá, aterrorizaram 13 pessoas. Só as mulheres não foram amarradas. Quatro se dividiram para roubar cinco apartamentos e um ficou na portaria.

Às 11h20, o bando começou a escapar. O que tomava conta dos reféns na portaria roubou um Logan branco e fugiu. O porteiro correu e pediu ajuda aos PMs da UPP do Morro da Formiga. Logo chegou um carro do 6º BPM (Tijuca). Quando três tentavam fugir do prédio no Idea, começou o tiroteio. O sargento Milezi foi baleado na orelha, pescoço, joelho e panturrilha ao tentar evitar essa fuga. O trio abandonou o carro e correu. O policial foi operado no Hospital da PM.
Assaltou durante mais de cinco horas e terminou com a fuga de bandidos | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
Bandido ficou cinco horas escondido no elevador

O trio fugiu pela Rua Conde de Bonfim. Dois pararam uma picape S-10 e depois a trocaram, roubando Gol verde na Rua Dr. Octávio Kelly. O outro criminoso roubou um Siena preto, na Rua São Miguel e levou o motorista deste carro até Benfica, perto do Jacarezinho.

A partir daí começaram as buscas pelo quinto bandido. Prédios e uma escola foram vasculhados. Às 14h, chegou a Polícia Civil. Pouco depois, moradores, assustados, receberam a informação de que o bandido fugira pela mata. A surpresa veio às 16h21, quando Maxmilliam Fabrício Martins da Silva, 22, aproveitou a desatenção dos policiais, deixou o elevador — onde ficou 5 horas escondido — e saiu pela portaria. Um morador gritou, alertando a polícia. Começou a nova perseguição com tiros. Ele invadiu o prédio 459 da mesma rua, onde acabou preso.

“Eles diziam: ‘Eu vou matar a tua mãe na sua frente e depois te matar’”


“Eu e meu pai descíamos para ir à padaria quando dois bandidos nos renderam. Fomos para o meu apartamento e logo eles trouxeram outros moradores como reféns, inclusive dois casais com bebês. As crianças choravam. Eles me obrigaram a amarrar todo mundo e diziam: ‘Se tentar alguma coisa eu vou matar a tua mãe na sua frente e depois eu vou te matar’. Ele me obrigou a juntar tudo de valor numa mala. Pegou o perfume e disse: vou sair com cheiro de playboy hoje”, revelou Caio Cardoso da Silveira, estudante de Direito e morador da cobertura.

Senha para entrar no vizinho

Enquanto a polícia acreditava que o quinto bandido já fugira do prédio, o estudante que foi mantido refém praticamente o tempo todo passou horas insistindo que as buscas no prédio continuassem. “Ele está aqui dentro. Quando desci da cobertura com ele, encontramos os PMs na escada na altura do segundo andar. Ele me largou, subiu correndo e eles foram atrás dele. Não tem como ele ter saído do prédio”, repetia Caio, que, ao se desvencilhar do bandido, abrigou-se na casa de um vizinho do primeiro andar. Para conseguir entrar, teve que responder a uma senha: “Bati na porta e ele perguntou meu nome e meu time. Falei Vasco. Então ele abriu”, explicou.
Moradores da Tijuca viveram dia de pânico neste domingo | Foto: André Luiz Mello / Agência O Dia
Tentativa de linchamento

Moradores da Rua 18 de Outubro agrediram o bandido assim que ele foi capturado, no prédio 459. Maxmilliam só não foi linchado porque os policiais usaram gás de pimenta para dispersar os moradores em fúria. Os tiros, a perseguição e o barulho do helicóptero da Polícia Militar que ajudou nas buscas atraiu curiosos para a via, que ficou fechada ao trânsito por sete horas.

Logo que o sargento foi baleado e os bandidos fugiram, ela foi tomada por vizinhos. Alguns descobriram que também tiveram prejuízo. O Astra branco do jornalista James Campos, 45, ficou furado pelos tiros: “Parecia que era dentro de casa”. O Idea dos bandidos também foi atingido.

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