quarta-feira

Motéis abandonados na Dutra são tomados por famílias e traficantes

Ocupações irregulares reúnem crianças, mulheres grávidas e doentes.
Drogas são vendidas no local por um real. Usuários lotam terraços.

Pelo menos 105 famílias vivem em condições de miséria absoluta às margens da Presidente Dutra - uma das rodovias mais importantes do país que liga as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Elas ocupam quatro prédios abandonados, na Baixada Fluminense, a cerca de 30 minutos do Centro do Rio, onde funcionavam três motéis e uma metalúrgica.
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Entre os moradores estão pelo menos 90 crianças, algumas recém-nascidas, mulheres grávidas, mendigos, catadores de papelão, bêbados e usuários de drogas.
Nos três andares ocupados do antigo Motel Oásis, em Coelho da Rocha, as cenas de miséria se repetem pelos 80 quartos que viraram um verdadeiro cortiço. Em alguns cômodos moram famílias de até seis pessoas, crianças e adultos, amontoadas. Muitos sofrem com doenças de pele, bronquites e anemias.
Quando chega a noite, os labirintos escuros dos corredores servem de abrigo para os traficantes que vendem crack, maconha e cocaína a preços para miseráveis (R$ 1). Os usuários costumam lotar o terraço do prédio, onde funciona a chamada “boca”.

A polícia já chegou a surpreender homens armados e com drogas entre os moradores. Uma pichação com o símbolo de uma facção criminosa permanece na parede. Infiltrados, criminosos  praticam delitos nas imediações, principalmente assaltando comerciantes da região.

Alguns motoristas que passam por aquele trecho da Rodovia Presidente Dutra são outros alvos dos ataques. Mas a área é também parada de caminhoneiros, que atraem meninas, algumas menores, para programas na estrada.
Ocupação irregular 
Jeremias é uma espécie de síndico da ocupação
irregular (Foto: Aluizio Freire/G1)
Na entrada do prédio há um bar, com mesas de sinuca e uma máquina que toca música (jukebox). O interior do prédio é manchado por uma cor escura, do esgoto que escorre durante os dias de chuva.

'Síndico' foi ameaçado pelo tráfico
Um dos moradores mais antigos do Oásis, o lanterneiro Jeremias Francisco Nascimento da Silva, 40, tenta por alguma ordem no prédio. Virou uma espécie de xerife do espaço e enfrentou até um grupo de traficantes da favela Jacarezinho que tentou invadir o local. Foi ameaçado de morte, mas resistiu e agora é chamado de síndico, mas ele prefere líder comunitário.

Jeremias diz que pede contribuição mensal de R$ 10 dos moradores para fazer a limpeza do prédio e realizar algumas melhorias, mas poucos pagam. Mudou o nome da ocupação para Condomínio Nova Esperança e com a ajuda de um pastor montou uma igreja em um dos espaços, onde são celebrados os cultos para atender os aflitos. “A maioria faz preces pedindo um trabalho para mudar de vida, sair daqui”, conta.
“Será que algum dia vão tirar a gente daqui e levar para um lugar melhor?”, pergunta Roldão Pereira de Souza, 60 anos, que ocupa um dos quartos do prédio onde funcionava o Oásis, há mais de quatro anos. “Fui um dos primeiros a chegar aqui”, conta, lamentando a distância dos filhos e dos quatro netos. “Vivo aqui, eu e Deus.”
Ocupação irregular 
Prédio onde funcionava o motel Oásis
(Foto: Aluizio Freire/G1)
Sem trabalho, Roldão mora em um quarto de pouco mais de quatro metros quadrados, onde colocou um estrado para dormir e instalou uma cortina de plástico para dividir o espaço da cozinha. “Quando consigo alguma comida esquento nesse fogareiro”, mostra.
Um dos casos que mais chama a atenção é de Ana Cláudia Olivetti Peçanha, 29, mãe de nove filhos – o mais novo tem oito meses - e grávida de sete meses. Seu marido, Edson Vander de Melo, 42, desempregado, é portador de tuberculose crônica. O filho do casal de cinco anos sofre de problemas mentais. Apesar das condições insalubres, a família vive há 23 anos no local.
Prefeitura
O prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos, que visitou os prédios acompanhado da subsecretária de Promoção Social, Gloria Regina, garantiu que as famílias estão sendo cadastradas e serão incluídas no programa de habitação do governo federal em parceria com o município “Minha Casa, Minha Vida”.

“Essas famílias vivem em condições precárias de higiene, as habitações são insalubres, em espaços ocupados desordenadamente, sem infra-estrutura para abrigar as pessoas. São lugares que servem de refúgio para quem vive à margem da lei. Nosso objetivo também é acabar com esse processo de favelização na Dutra”, afirma o prefeito.
Da Redação Com G1

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