segunda-feira

Justin Bieber conquista fãs em São Paulo

Justin Bieber conquista fãs em São Paulo 
"O que ele disse?"

"Sei lá! Acho que ele disse que ama a gente."

"Ah, tá. Justin Bieber, eu amo você também!"

Trocado aos berros por duas amigas neste domingo (9), o diálogo acima dá um bom resumo do que foi o quarto show do rapazote de 17 anos no Brasil.

Elas tinham acabado de ouvir Justin Bieber fazer afagos, em inglês, às garotas da plateia. Coisas como "vocês são solteiras?", ou "as garotas brasileiras são as mais bonitas do mundo!".

Botando uma palavra ali, tirando outra acolá, as palavras do cantor canadense são tão genéricas que poderiam se adequar a qualquer audiência no mundo.

Sim, você já viu este filme antes. Mas os fãs de Justin parecem não dar muita bola para o repeteco.

No Estádio do Morumbi pela segunda vez, o popstar reprisou músicas e cacoetes de apresentações anteriores. Não escorregou uma vez sequer para fora do roteiro. O que se viu, por cerca de uma hora e meia, foi a parte mais burocrática de ser um popstar.

Até aí, tudo bem. Se Justin Bieber passasse todo o show sentado placidamente, jogando Tetris e de costas para a plateia, teria sido bem provavelmente ovacionado da mesma forma.

A histeria é fácil de ser explicada (os gritos sem fim, a mesada torrada em parafernálias do astro). Mas difícil de ser entendida por quem não compartilha da mesma certeza absoluta de que nasceu para casar --sra. Bieber, entendeu?-- com a atração principal do Festival Z. Por isso, quando começou a contagem regressiva de 15 minutos (que acabaram virando 20) para o show, às 20h, pais que acompanhavam seus filhos menores de idade respiraram aliviados. Em breve, eles tirariam da cara expressões que alternavam "me tirem daqui!" com "quero só ver se, depois dessa, você vai me mandar para o asilo no futuro".

Logo de cara, Justin mandou uma sequência de playback (quando só dubla, sem cantar de verdade ao vivo) das músicas "Love Me" e "Bigger". Ao contrário de outras überestrelas do pop, ele é econômico nos efeitos especiais --na verdade, o próprio é todo o efeito especial necessário para fascinar sua legião de fãs.

Algumas luzes em laser ricocheteavam pelo estádio. Dançarinos eram coadjuvantes nas coreografias de Justin no palco, mas nada que roubasse a cena do astro da noite.

A empolgação de Justin parece protocolar. No sábado, ele chegou a dizer no Twitter que o primeiro show em São Paulo, para quase 60 mil pessoas, foi provavelmente "um dos melhores" de sua curta vida.

Ele, de fato, é profissional. Hoje, logo após se apresentar, tuitou que tinha torcido o joelho, mas nada que aparentasse no palco. Por ironia, é justamente essa simpatia robótica, ensaiada até demais, que tira o brilho de seus números.

Outro problema é a falta de estofo para segurar um megashow como esse. O cantor foi descoberto na internet e parece ter apetite pela fama --aluno bem aplicado, pode até seguir o rumo do xará Justin, o Timberlake, ex-estrela teen da Disney que cavou seu espaço na realeza do pop para maiores de 18 anos.

Mas sua carreira ainda é curta, e os hits são poucos. Só os mais fanáticos sabiam cantar todas as canções de cor.

Por isso, a devoção da massa não era exatamente direcionada aos dotes musicais do menino. Pequenos gestos pareciam contar mais. Detalhes bobos, como tirar o óculos escuros antes de cantar "Love Me", uma paródia mal-ajambrada de "Lovefool", hit dos anos 90 da banda sueca The Cardigans.

Tanto que o auge da gritaria ocorreu durante a performance de "One Less Lonely Girl", quando Justin cantou para uma fã. Sentada no meio do palco, ela recebeu do astro um buquê de rosas e carícias no rosto.

De diferente dos shows anteriores, algumas perdas e ganhos. No Rio, duas participações especiais que não se repetiram em São Paulo: a da cantora Selena Gomez, namorada de Justin, e a do lutador Anderson Silva.

Na apresentação de domingo, uma adesão ao repertório: "Mistletoe".

Também foi repetido o "moonwalking" sofrível visto na noite anterior. Aconteceu durante um cover de "Wanna Be Starting Something", de Michael Jackson.

Michael é uma clara inspiração, e não passa batido o fato de Justin ter se estrepado tentando imitar seu passo mais famoso, em que os pés deslizam feito sabonete pelo chão, como quem caminha sobre a lua.

Assim como na música de seu ídolo, Justin "wanna be starting something" ("quer estar começando algo", em português). Definitivamente, já começou. Agora, é ver onde isso vai dar.


Da Redação com A FOLHA.COM

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