O
Ministério Público acaba de denunciar 72 ex-deputados federais, por
desvio de dinheiro (peculato) por uso irregular da cota de passagens
aéreas, à 12ª Vara Federal de Brasília. Foram oferecidas 28 denúncias
criminais contra eles. Na lista dos denunciados estão a secretária da
Mulher do governo Temer, Fátima Pelaes; o ex-ministro de diversas pastas
do governo Lula, Ricardo Berzoini; o ex-ministro dos governos Lula e
Dilma, Aldo Rebelo; e, o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha.
As denúncias criminais apontam R$ 8,36 milhões gastos irregularmente com
13.877 bilhetes aéreos usados entre 2007 e março de 2009. Um grupo de
seis ex-deputados gastou mais de R$ 200 mil cada um com as passagens no
período de cerca de dois anos. O campeão da lista é Ilderlei Cordeiro
(PR-AC), com 248 mil e 388 bilhetes emitidos. Em seguida, vêm Henrique
Afonso (PV-AC) , com R$ 245 mil, e Nilson Mourão (PT-AC), com R$ 229
mil. Em média, cada parlamentar denunciado usou 193 passagens, gastando
R$ 116 mil no período.
O caso foi revelado em 2009 e ficou conhecido como “farra das passagens”
porque senadores, deputados e ministros de governo usavam cotas de
bilhetes aéreos para viajar pelo mundo a passeio ou para cedê-las a
eleitores e terceiros, além de revelar um esquema de venda ilegal de
créditos em agências de turismo.
De acordo com o Ministério Público, dinheiro público só pode ser usado a
trabalho. Portanto, a situação é considerada ilegal se o parlamentar
voa a passeio, cede a passagem a terceiros ou se recursa a explicar o
que fez com o dinheiro – silêncio observado em diversos pedidos de
informação feitos há oito anos.
Em 2009, revelou-se que mais da metade da Câmara tinha voado para o
exterior com dinheiro público nos dois anos anteriores. Para auxiliar a
Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF), peritos da Polícia
Federal se debruçaram sobre 160 mil bilhetes aéreos pagos pela Câmara
aos deputados entre 2007 e 2009 às companhias Gol e TAM. A despesa foi
de R$ 70 milhões. Foram 1.588 viagens internacionais (R$ 3,1 milhões),
112 mil nacionais (R$ 64 milhões) e 46 voos cancelados.
Arquivamentos
A Procuradoria da República se debruçou sobre 47 inquéritos montados em
janeiro de 2017, com apoio de procuradores regionais (que analisam a
conduta de prefeitos). Destes, viu indícios para abrir 28 denúncias e
pedir o arquivamento de apurações em cinco casos envolvendo
ex-parlamentares. O motivo foi que eles tinham mais de 70 anos ou os
fatos já tinham acontecido há muito tempo, o que tornaria os casos
prescritos. Há ainda 14 casos sob análise na PRDF.
O Ministério Público vinha investigando o caso com idas e vindas desde
2006, mas sem apresentar acusações à Justiça. Sigilosamente, a
Procuradoria Geral da República (PGR) arquivou a apuração criminal
contra 12 deputados em março de 2016. Mas, na Procuradoria Regional da
República da 1ª Região (PRR-1), em que são apurados crimes de prefeitos,
uma leva de mais de 400 ex-deputados foi denunciada em novembro do anos
passado.
Há poucas semanas, porém, meses depois da denúncia da PPR-1, a PGR
recebeu o processo relativo a pessoas que voltaram a ser parlamentares e
governadores e resolver abrir investigação contra 199 autoridades. A
apuração na PGR já completou 11 anos. Na Procuradoria da República, as
apurações se intensificaram em 2009, com a revelação da “farra das
passagens”.
Da Redação com Terra
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