A cada 40 segundos, um suicídio ocorre
 no mundo. Ao todo, são 800 mil registros anuais, segundo a Organização 
Mundial de Saúde (OMS). Embora tenha forte componente individual, 
determinantes sociais - como questões econômicas - também têm influência
 em diversos casos investigados. Episódios de suicídio são registrados 
em todos os países, mas segundo dados da OMS, 75% dos episódios 
ocorreram em nações de baixa e média renda em 2012.
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) sobre austeridade e saúdediagnosticou,
 a partir da análise de diferentes estudos, que as crises econômicas e o
 consequente aumento do desemprego aumentam o risco de suicídio e de 
mortes decorrentes do abuso de álcool.
Falta de esperança, dificuldades de se
 enquadrar no ambiente social e econômico são problemas apontados pela 
autora da análise e especialista em Políticas Públicas e Gestão 
Governamental, Fabiola Sulpino Vieira.
Crise e austeridade
Em momentos de crise, a demanda por 
atendimento de saúde cresce, tanto pela degradação das condições de 
saúde quanto pela dificuldade de ter acesso a um serviço privado. Por 
isso, a possibilidade de ocorrência de suicídios pode aumentar com a 
adoção de políticas de austeridade.
“A crise gera uma série de problemas, à
 medida que você provoca uma situação de instabilidade muito forte. 
Quando vem a austeridade, que geralmente vem por meio do corte de 
despesas da área social, você acaba tirando possibilidades de mitigação 
dos efeitos da crise na vida das pessoas”, explica Fabiola.
Após analisar vários países que 
enfrentaram crises ao longo da história, a pesquisadora concluiu que 
aqueles que mantiveram políticas de reinserção das pessoas no mercado de
 trabalho e renda mínima, além de serviços públicos de saúde e educação,
 “não só mitigaram os efeitos da crise sobre a situação de saúde das 
pessoas, como também tiveram resultado em conseguir retomar o 
crescimento econômico em um prazo mais curto do que os que adotaram a 
austeridade”.
Enfatizando a necessidade de 
prevenção, o estudo alerta que “programas de proteção social e voltados 
para o mercado de trabalho podem reduzir o risco de desfechos negativos 
sobre a saúde mental e problemas relacionados ao abuso de álcool, além 
disso, podem promover a saúde e o bem-estar”.
A situação do Brasil
O Brasil não está fora desse quadro. O
 país tem taxa proporcional de suicídio baixa. Segundo o Ministério da 
Saúde, em 2014, foram registrados 10.653 óbitos por suicídio no Sistema 
de Informação de Mortalidade, taxa média de 5,2 por 100 mil habitantes, 
praticamente metade da média mundial, que é de 11,4 casos para o mesmo 
grupo. No entanto, tem sido diagnosticado um crescimento constante do 
número de ocorrências, especialmente, em relação a 
determinados grupos sociais.
Jovens
“Fatores puramente econômicos como o 
desemprego e a renda causam maior impacto sobre a taxa de suicídio ao 
grupo de pessoas mais jovens”, destacou o Ipea, em pesquisa sobre determinantes sociais do suicídio,
 publicada em 2010. Pressão social por sucesso e desemprego estrutural 
entre os jovens são alguns dos fatores que explicam essa situação, 
segundo o Ipea. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre 
jovens com idade entre 15 e 29 anos no mundo, segundo a OMS.
A questão de gênero é outra questão 
destacada na análise. Verificando microdados do Ministério da Saúde 
relativos ao intervalo entre 2000 e 2010, o Ipea constatou que 79% das 
vítimas são do sexo masculino. Já estudo que trata da relação entre acesso às armas de fogo e suicídio destacou que, quando consideradas apenas as mortes cometidas com armas de fogo, esse percentual chega a 88%.
Brancos
A diferença racial não aparenta ser 
tão determinante na análise das ocorrências gerais. Há 5% a mais de 
vítimas brancas. Quando destacado o uso da arma de fogo, esse percentual
 aumenta em quase dois terços.
“Isto provavelmente reflete que os 
indivíduos de cor branca são em média mais ricos que os não brancos e, 
portanto, possuem mais facilidade de adquirir armas de fogo”, avalia o 
Ipea. 
O estudo aponta ainda que a disponibilidade de armas desse tipo pode favorecer a ocorrência de suicídios, de forma geral.
Indígenas
O acesso às armas de fogo em regiões 
de fronteira ou nas regiões agrícolas, onde muitos conflitos são 
registrados, ajuda a compreender a distribuição geográfica das 
ocorrências. Exemplo disso é o número bastante elevado de suicídios em 
Mato Grosso e no Amazonas. Enquanto a média nacional é de 
5,2 casos por grupo de 100 mil habitantes, nesses locais a taxa é de 
13,6 e 11,9, segundo dados do Mapa da Violência 2017.
LGBTs
Em 2016, a ocorrência de casos desse 
tipo no âmbito da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e 
transexuais) chamou a atenção do Grupo Gay da Bahia (GGB) que, todos os 
anos, produz relatório sobre violência homofóbica. O grupo registrou 26 
suicídios, sendo 21 gays, três lésbicas e duas pessoas transexuais. O 
número deve ser maior, já que a pesquisa contabiliza apenas casos 
noticiados por jornais e pela internet.
Políticas públicas
O Sistema Único de Saúde 
(SUS) disponibiliza acompanhamento psicológico e psicoterápico, 
incluindo terapia ocupacional, bem como assistência hospitalar a todas 
as pessoas com transtornos mentais ou problemas decorrentes do uso de 
álcool e outras drogas. 
Preocupado com o crescimento do número
 de suicídios, em 2006, o Ministério da Saúde publicou as Diretrizes 
Nacionais de Prevenção do Suicídio (Portaria 1.876/2006) e o manual 
dirigido aos profissionais das equipes de saúde mental dos serviços de 
saúde.
A iniciativa integra a Estratégia 
Nacional de Prevenção do Suicídio, que tem como objetivo reduzir as 
taxas de óbitos por esta causa, bem como as tentativas e os danos 
associados aos sujeitos envolvidos, além de estruturar a rede de suporte
 social e comunitária.
Em nota enviada à Agência Brasil,
 o ministério destacou que o Brasil está entre os 28 países, de um 
universo de mais de 160 analisados pela OMS, que tem uma estratégia de 
prevenção desse tipo. A portaria que estabelece a política está sendo 
avaliada pelo Comitê de Enfrentamento do Suicídio, criado recentemente 
pelo órgão, que deverá atualizar as diretrizes da estratégia.
O ministério também tem trabalhado em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV)
 – serviço que oferece apoio emocional por meio de ligação telefônica, a
 fim de evitar o suicídio – para ampliar o alcance do serviço de apoio 
gratuito por telefone para todo o país até 2020.
Da Redação com Agência Brasil
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